Chocolate amargo: uma ótima opção para a Páscoa | Blog Integral

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Em datas festivas e comemorativas é usual que as celebrações sejam realizadas por meio de banquetes, pratos típicos, doces e determinadas bebidas. O ser humano apresenta uma relação extremamente forte e histórica entre celebrar com os hábitos de comer e beber. Entretanto, tais comemorações são seguidas por sentimento de culpa em função do excesso da ingestão de determinados nutrientes e calorias, o que fomenta a adoção e propagação das famosas “dietas da moda” que, em sua maioria, não possuem qualquer fundamento científico mas buscam minimizar a consequência psicológica de excessos nutricionais.

Primeiramente, é importante pontuar que resultados (sejam eles positivos ou negativos) são obtidos por meio de padrões dietéticos adotados em longo prazo (dias, meses anos) e não em algumas horas. Um indivíduo que busca aumentar sua massa magra e reduzir sua adiposidade observará tais resultados se aderir a um programa de treinamento e um padrão de consumo alimentar adequados por um determinado período de tempo. Ou seja, é preciso adotar treino e dieta como regra a ser seguida durante as semanas, meses, etc. É teoricamente impossível atingir tais resultados se as sessões de exercício e a dieta foram adotadas como exceção (esporadicamente). A recíproca é verdadeira para redução da adiposidade. A perda de tecido adiposo ocorre de modo crônico (lento e prolongado). Portanto, é necessário que o consumo alimentar adequado para tal objetivo seja seguido por determinado período de tempo até que o objetivo seja atingido. Novamente, a conduta nutricional deve ser adotada como regra.

Dessa forma, podemos dizer que objetivos positivos em termos de composição corporal e desempenho esportivo são alcançados quando há aderência crônica de variáveis como programa de treinamento e planejamento dietético. O mesmo vale para os efeitos negativos. Nenhum indivíduo “engorda” em algumas horas ou em um dia. Datas festivas, celebrações e comemorações que envolvam o consumo alimentar excessivo e abundante de determinados alimentados devem ser encarados como exceção dentro de uma rotina de regras caracterizadas equilíbrio em termos de gasto e ingestão de energia. Entretanto, com a evolução da ciência da nutrição nos dias atuais, é possível adotar práticas alimentares em dias de exceção consideradas menos prejudiciais em comparação as convencionais.

O consumo de chocolate amargo (com elevado teor de cacau) tem sido positivamente associado com benefícios à saúde atribuídos aos flavonóides antioxidantes derivados do solo. No entanto, estes compostos promovem um sabor amargo para os alimentos, o que é frequentemente mascarado em chocolates e demais doces por meio de processamento e industrialização para adulteração de sabores.  Há estudos recentes demonstrando que há variedades de chocolate escuro (amargo) produzidos de modo distinto, o que implica em ressalvas para os benefícios ou malefícios a saúde como um todo. Não é surpreendente que o extensivo processamento, diluição e adição de modificadores de sabor melhorem a palatabilidade dos chocolates amargos, porém, podem trazer efeitos nutricionais clínicos negativos.  Contudo, estudos bem controlados e com chocolate amargo de boa procedência demonstram alguns benefícios interessantes.

Grassi et al. (2005) comparou os efeitos do consumo agudo de chocolate amargo ou branco sobre os parâmetros de pressão arterial e homeostase de glicose em indivíduos saudáveis. Após 7 dias sem consumir produtos e alimentos com cacau, 15 indivíduos saudáveis foram randomizados e receberam durante 15 dias 100 g de chocolate amargo contendo aproximadamente 500 mg de polifenóis ou 90 g de de chocolate branco que, presumidamente, não continha polifenóis. Os autores observaram melhora da sensibilidade a insulina e de pressão arterial sistólica após o consumo de chocolate amargo em comparação ao chocolate branco. Os dados apresentados são de alta aplicação clínica uma vez que demonstra a efetividade e segurança do consumo em indivíduos saudáveis. Portanto, é plausível de se especular que o consumo de chocolate amargo, dentro de um contexto dietético adequado, poderia promover uma possível ação terapêutica não farmacológica para populações de risco como diabéticos do tipo 2, obesos e hipertensos. De modo mais crônico, di Giuseppe (2008) demonstra que os benefícios se estendem para uma possível ação anti-inflamatória que elucida os efeitos clínicos acima descritos e amplia a possibilidade de novas aplicações em quadros distintos.

Toda conduta dietética realizada de modo crônico e regular está sujeita a exceções. Nós vivemos em uma sociedade caracterizada pela pandemia da obesidade como reflexo do alto consumo energético e de baixo gasto calórico. Reverter tal quadro tem se tornado teoricamente impossível uma vez que os estímulos ambientes favoráveis para o ganho de peso corporal e de adiposidade são crescentes. Portanto, exceções devem ser encaradas como oportunidades de socialização e confraternização e feitas de modo consciente. O consumo de chocolate amargo já é um padrão adotado pela ciência da nutrição de modo a fornecer uma opção menos deletéria à saúde em comparação ao chocolate convencional. Entretanto, vale lembrar que tal conduta deve ser parte de um planejamento dietético individual que só o profissional nutricionista pode realizar.

 

Referências bibliográficas e sugestões para leitura

di Giuseppe R, Di Castelnuovo A, Centritto F, Zito F, De Curtis A, Costanzo S, Vohnout B, Sieri S, Krogh V, Donati MB, de Gaetano G, Iacoviello L. Regular consumption of dark chocolate is associated with low serum concentrations of C-reactive protein in a healthy Italian population. J Nutr. 2008 Oct;138(10):1939-45.

McShea A, Ramiro-Puig E, Munro SB, Casadesus G, Castell M, Smith MA. Clinical benefit and preservation of flavonols in dark chocolate manufacturing. Nutr Rev. 2008 Nov;66(11):630-41.

Grassi D, Lippi C, Necozione S, Desideri G, Ferri C. Short-term administration of dark chocolate is followed by a significant increase in insulin sensitivity and a decrease in blood pressure in healthy persons. Am J Clin Nutr. 2005 Mar;81(3):611-4.

 

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