Beta alanina no esporte: o que a ciência mostra? | Blog Integral

A Beta alanina no esporte: o que a ciência mostra?

A beta-alanina tornou-se um suplemento popular entre atletas e praticantes de atividade física de variados esportes. A justificativa para isso é o aumento das concentrações intramusculares de carnosina. Essa carga de carnosina pode melhorar o desempenho de exercícios de alta intensidade com duração entre 1 a 4 minutos, diminuindo a fadiga1,2,3. Sendo mais eficaz para tarefas de exercícios que dependem fortemente da síntese de ATP a partir da glicólise anaeróbica.

Blog-Integralmedica-Banner-BetaAlanina

A carnosina (β-Alanil-L-histidina) é um dipeptídeo citoplasmático formado da combinação de seus aminoácidos L-histidina e beta-alanina, com a assistência da enzima carnosina sintetase, encontrado em altas concentrações no músculo esquelético. Também está presente nas células do sistema nervoso central1. A suplementação de carnosina (ao invés da beta-alanina) se mostrou ineficaz, pois a enzima carnosinase (responsável pela quebra da carnosina) está presente em vários tecidos em humanos, porém, ausente no músculo esquelético4. A suplementação de carnosina oral é metabolizada antes de chegar no músculo esquelético5, sendo ineficaz para aumentar seus níveis de carnosina muscular.

Beta alanina no esporte: o que a ciência mostra? | Blog Integral - Imagem

Suplementação de beta-alanina e sua características

A estratégia de suplementação de beta-alanina é importante para beneficiar seus efeitos. Até o momento, as pesquisas sugerem que a beta-alanina requer uma suplementação crônica de quatro a seis gramas por dia em doses divididas de dois gramas ou menos, por um período mínimo de duas semanas6,7, com maiores benefícios causados pela maior concentração observados após quatro semanas8. Estudos mostraram que a suplementação de beta-alanina juntamente com a refeição é capaz de aumentar a eficiência na síntese de carnosina9, pela capacidade da insulina em desempenhar um papel no processo de síntese da carnosina muscular9. Além disso, o treinamento parece ser outro determinante da carga muscular de carnosina. Determinando que os músculos treinados apresentam carga de carnosina aproximadamente duas vezes maior em comparação com os músculos não treinados para a mesma dose e duração da beta-alanina oral10.

A parestesia (ou seja, formigamento) é o efeito mais conhecido da beta-alanina. Nem todos os indivíduos apresentam esse efeito. É mais frequente quando há utilização de doses mais altas. Estudos indicam que esse efeito pode ser atenuado usando doses mais baixas divididas durante o dia11. Um efeito secundário da suplementação de beta-alanina é uma diminuição potencial nas concentrações de taurina, pelo compartilhamento do mesmo transportador (Tau-T) no músculo esquelético.

No entanto, nem todos os exercícios foram capazes de demonstrar efeitos benéficos da carnosina. Vários fatores podem estar relacionados, como: o tipo de treinamento, sua intensidade e duração. Em exercícios predominantemente glicolíticos anaeróbicos, há um maior acúmulo de íons H+, podendo gerar fadiga pelo aumento da acidose muscular. Nesses casos, a carnosina pode contribuir para melhorar o desempenho pela sua capacidade tamponante. Mas será que em exercícios de força de curta duração ou exercícios aeróbicos tem benefícios? 

Efeitos da suplementação de beta-alanina nos exercícios predominantemente aeróbicos

Estudos investigaram o efeito com a suplementação de beta-alanina no desempenho de uma hora de treino em ciclistas bem treinados12. A suplementação duplicou o conteúdo de carnosina muscular, porém não aumentou o desempenho dos ciclistas, o que está de acordo com o efeito menos pronunciado da beta-alanina em exercícios de maior duração. A análise do VO2max mostrou pouco ou nenhuma influência de melhora na suplementação de beta-alanina13. A capacidade tamponamento para treinos de longa duração se mostrou ineficaz, pois, nesse caso, o corpo utiliza, na maior parte do tempo, a via energética aeróbica (ciclo do ácido cítrico), consequentemente, esses parâmetros são pouco influenciados pela suplementação de beta-alanina. Entretanto, em alguns casos pode ocorrer a necessidade de um sprint ou uma arrancada maior durante uma competição. Um exemplo seria uma arrancada de um atacante de futebol ou um sprint na linha de chegada de uma maratona. Portanto, a suplementação de beta-alanina pode não ser uma estratégia interessante se o objetivo é melhorar VO2max13, mas em alguns casos pode trazer resultados positivos.

Beta alanina no esporte: o que a ciência mostra? | Blog Integral - Imagem 2

Efeitos da suplementação de beta-alanina em exercícios de força (via ATP-CP)

Com base na função tamponante da carnosina, exercícios de força que não induzam um grande aumento na acidose muscular, não se beneficiam da suplementação de beta-alanina, como exercícios de força máxima.

Estudos realizados nessa perspectiva13, não encontraram melhora no teste de uma repetição máxima (1RM). Entretanto, esses autores13 encontraram melhora na força do volume de treinamento e na força no número total de repetições realizadas por treino com suplementação de beta-alanina, o que sugere que essa estratégia nutricional pode ser usada para melhorar a qualidade do treinamento de força. Portanto, pelo nível de treinamento, a suplementação de beta alanina pode ser eficaz, mas não tem influência na melhora da via ATP-CP.

Considerações finais

Na prática clínica, antes mesmo de prescrever qualquer tipo de suplementação, se faz necessário definir a atividade que o atleta ou paciente desempenha, analisar o sistema energético prioritário que está sendo utilizado e se realmente o paciente terá benefícios com aquela suplementação. Se na anamnese concluirmos que a via predominante é a glicolítica anaeróbica e esse treino está sendo realizado com alta intensidade, temos total convicção que a suplementação com ações tamponantes como a beta alanina trarão benefícios.

Analisar a modalidade, posição do atleta no esporte, o tipo de treinamento, intensidade e tempo de duração se faz indispensável. Para atletas com competições marcadas, não testamos a suplementação perto do evento. Iniciamos a suplementação pelo menos 4 semanas antes, salientando que a suplementação de beta-alanina não é considerada doping, podendo ser utilizada pelos atletas.

Referências bibliográficas

  1.           HARRIS, RC; TALLON, MJ; DUNNETT, M; BOOBIS, L; COAKLEY, J; KIM, HJ; et al. The absorption of orally supplied beta-alanine and its effect on muscle carnosine synthesis in human vastus lateralis. Amino Acids. 2006.
  2.           DUNNETT, M; HARRIS, R, C. Influence of oral beta-alanine and L-histidine supplementation on the carnosine content of the gluteus medius. Equine Vet J Suppl. 1999. p. 499–504.
  3.           BLANCQUAERT, Laura; EVERAERT, Inge; DERAVE, Wim. Beta-alanine supplementation, muscle carnosine and exercise performance. Current Opinion in Clinical Nutrition and Metabolic Care, 2015, p. 63–70.
  4.           SALE, C; SAUNDERS, B; HARRIS, R, C. Effect of beta-alanine supplementation on muscle carnosine concentrations and exercise performance. Amino Acids. 2010. p. 321–333.
  5.           GARDNER, M, L; ILLINGWORTH, K, M; KELLEHER, J; WOOD, D. Intestinal absorption of the intact peptide carnosine in man, and comparison with intestinal permeability to lactulose. J Physiol. 1991. p. 411–422.
  6.           KLEBANOV, G, I; TESELKIN, Yu O; BABENKOVA, I, V; LYUBITSKY, O, B; REBROVA, O; BOLDYREV, A, A; et al. Effect of carnosine and its components on free-radical reactions. Membr Cell Biol. 1998. p. 89–99.
  7.           KOHEN, Ron; YAMAMOTO, Yorihiro; CUNDY, Kenneth, C; AMES, Bruce, N. Antioxidant activity of carnosine, homocarnosine, and anserine present in muscle and brain. Proc Natl Acad Sci U S A. 1988. p. 3175–3179.
  8.           STELLINGWERFF, Trent; ANWANDER, Helen; EGGER, Andrea; BUEHLER, Tania; KREIS, Roland; DECOMBAZ, Jacques; et al. Effect of two beta-alanine dosing protocols on muscle carnosine synthesis and washout. Amino Acids. 2012. p. 2461–72.
  9.           STEGEN, Sanne; BLANCQUAERT, Laura; EVERAERT, Inge; BEX, Tine; TAES, Youri; CALDERS, Patrick; et al. Meal and beta-alanine coingestion enhances muscle carnosine loading. Med Sci Sports Exerc. 2013. p. 1478–1485.
  10.         BRISOLA, Gabrie, M. P. & ZAGATTO, Alessandro M. Ergogenic Effects of β-Alanine Supplementation on Different Sports Modalities. Journal of Strength and Conditioning Research, 2018.
  11.         SEVERIN, S, E; KIRZON, M, V; KAFTANOVA, T, M. Effect of carnosine and anserine on action of isolated frog muscles. Dokl Akad Nauk SSSR. 1953.
  12.         CHUNG, Weiliang; BAGUET, Audrey; BEX, Tine; et al. Doubling of muscle carnosine concentration does not improve laboratory 1-h cycling time trial performance. Int J Sport Nutr Exerc Metab 2014; 24:315–324.
  13.         BRISOLA, Gabrie, M. P. & ZAGATTO, Alessandro M. Ergogenic Effects of β-Alanine Supplementation on Different Sports Modalities. Journal of Strength and Conditioning Research, 2018.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

plugins premium WordPress
Rolar para cima